Fomes...

Fomes...



Andarilho pelo mundo e casto de vivências: Manso vou, acabrunhando minha fome.
Minha fome de viver é inconteste, não sofro, vibro, ao ver os diletos olhos de Deus.
Causo minha opressão e intranquila vagueio, sou célebre e me vou, quase extinta.
Sonho num albergue sem luz, e canto em ruas de Paris, como Edith...
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Quero reter-me num único jardim, porém minha ânsia de descortinar é ampla,
Faz-me néscia, e parto para outro lado, para outra Frente, desembaraço-me...
Do tempo que avilta por um fim à minha jornada: Rezo.
Vislumbro por figuras imortais, em Praças ou Museus.

Não tenho medo do deserto imposto pelos séculos de Repressão, e aí...
Lanço-me na amargura de então, sem viço, sem arma na mão, estou casta...
E isso basta para meu intento, vejo homens agarrados aos seus anseios...
Repassando pelas mesmas vias que a mediocridade lhes impõe.

E refaço minha lição de viver, e respirar, longe da Opressão do outrora.
Vejo na memória que sobrou: A infância, a juventude, e o resto todo...
Estimo um fim bem natural, onde os cabelos fracos decaem ...
Onde mãos enrugadas corroem-se sem lamentar o porvir.

Refaço-me olhando o Paraíso que já vivi, entre ondas de mares prazerosos,
Entre laços brancos de fitas amarrando os mesmos cabelos, alourados...
Nas épocas mansas e familiares, emolduradas por delicadeza e júbilo.
Num baile contínuo e colorido por flautistas mágicos, e vorazes.
Cheia de amor, e fé no amanhã sem sabe-lo exangue...sorri!
Os pais, os tios, os avós tão presentes, não adivinhavam ...

E entoavam doadores seus tradicionais penhores de parentela
E sem mazelas, beberiquei a água da fonte imensurável de carinho
Estando com sorte, de ainda viver, sentada na eira ou na beira...
De um fugidio escombro orgânico em mim...

Aguardo nesta trajetória de Fomes por um Querubim...
Que apascente meu fim, mostrando-me os rios vibrantes...
Da Paz.

Poema que foi classificado a integrar o Premio Poetize 2012.
Julgado por comissão da UFRJ e Tv. Cultura.

Valéria Guerra Reiter